sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Filosofia de família?

            Meu pai gostava de definir as coisas, dava muita importância as palavras. E eu amava aquele processo: de destrinchar as palavras até que se desfizessem na confusão de suas origens e interpretações, ele me parecia muito inteligente.
            Hoje em dia penso que meu pai é um homem que tem aguçada sua intuição inventiva. É um sábio, com hipóteses fecundas baseadas num conhecimento intuitivo. Me ensinou a filosofar, sou grata. Me ensinou a amar as palavras, os problemas do conceito, e sobretudo, a intuição. Ele gosta de chama-la de “deus”, sua intuição. Intuição, deus, intuição, deus... isso resultou num pequeno “conflito”, penso, que nos rendeu nossa atual “silenciosa” relação. E hoje em dia eu filosofo com um pai um tanto imaginário, desatualizado. Mas o importante, é que aprendi a caminhar pelo escuro e confusão da minha mente até minha solidão mais profunda, e ali descansar.
            Certo dia me perguntaram: “se não acreditas em Deus acreditas em quê (quem)?”. Ora, pessoas, precisamos acreditar em algo? Por que não veem a beleza sublime do desconhecido? Por que não sentem o prazer da dúvida? Todos estamos a cair de um precipício, por que seria melhor “crer” que seremos salvos, se tudo o que sabemos é a contínua aproximação do nosso fim, e tudo que sentimos nos confirma a tese? Sublime, sim, a beleza do vazio que nos consome, da ignorância consciente. O mundo não acaba, nem a vida, por vivermos sem certezas plenas. Muito pelo contrário, um mundo novo se abre, quiçá todos os dias.

            Schiller escreveu “Por isso o pensador abstrato tem, frequentemente, um coração frio, pois desmembra as impressões que só como um todo comovem a alma” (SCHILLER. A educação estética do homem.1995. P.43). 

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