domingo, 11 de novembro de 2012

Mais que pães...

 Penso que todo mundo já pensou em trabalhar numa padaria, afinal todo mundo passa por lá a vida toda, comprando pãezinhos, e cobiçando os docinhos do balcão. E sim, meus queridos, quem trabalha na padaria pode comer de tudo que há lá. É sabido que os doces são mais bonitos que gostosos...mas os pães...estou aprendendo a ama-los. Todos os produtos tem um "quê" artístico, a Tina desce a maldita e gigantesca escada que leva a cozinha e ao salão de produção, desce com uma grande bandeja nas mãos, trazendo cada vez uma delícia diferente, salgadinhos, pãezinhos, biscoitinhos...e também desce de lá o Moço dos Doces, sabe-se lá seu nome, por enquanto, Adalberto? não sei...desce trazendo doces, tortas de morango e outras de limão, todas muito enfeitadas,cheias daquela meleca transparente que deixa o doce brilhando, tudo muito bonito, bonito e caro...caro pra mim, óbvio, a padaria é cheia de clientes, clientes que não acham nada caro...gente arrumada, entra pela porta ao mesmo tempo que tira os óculos dos olhos e põe na cabeça, levantam uma das sobrancelhas analisando as primeiras coisas que chegam as vistas, um certo olhar de desprezo de alguns, outros cheios de otimismo com olhos e bocas cheios de vontade de tudo que veem...por fim compram 5 ou 7 pãezinhos, olham a etiqueta do preço, vão até o balcão, olham pras balas, perguntam sempre sobre uma pastilha de café que é novidade no mercado.
 Existem os clientes fixos...trabalham, moram ou estudam por perto, e comem sempre ali na padaria. Existe os que variam o prato, vai uma torta, uma esfirra, um quiche...tem outros que não, "não tem a torta?", fazem cara de "sorry", e vão embora...o engraçado é que existe também os que quando descobrem que está em falta o pedido de sempre, ficam de cara feia, olhando com cara de "ruim" pra todos os outros produtos, olham o cardápio como quem não quer nada, nada nada dali...por fim pedem um Salgado qualquer, comem como quem pensa em outra coisa, confirmam quando voltaremos a vender a bendita torta, e vão embora.

 Eu gosto mesmo é dos velhinhos...os que gostam de ser velhinhos, os que não gostam...mas todos vão ali, como velhinhos, com cara de velhinhos, com a calma de um velhinho, com o cansaço de um velhinho, com a paciência de um velhinho...Existem duas clientes bem especiais, são tão educadas, são tão unidas, são felizes ali enquanto escolhem coisas do balcão, uma vó e uma neta, com traços orientais, a vó é bem baixinha, cabelo branco e curtinho na metade do pescoço, a neta é alta, por volta dos 12 ou 13 anos, o cabelo preto e comprido...a vó transpira tranquilidade, um risinho estampado, a sobrancelha arqueada tentando ver melhor, bochechuda, pequena e magrinha...a menina, tão ponderada, educada, delicada...uma mocinha...compram docinhos, pãezinhos...se despedem e se vão...
Mas se eu for escrever sobre os velhinhos, não poderia deixar de citar vários, então vou parar só nessas clientes.

E finalmente 6 e 20 da tarde chega, e eu vou embora, e eu sou aquela pessoa, na rua em cima da bicicleta voltando do trabalho, ali sou eu, voltando...saindo daquele transe do trabalho, voltando pra minha vida, pra minha casa, pros meus planos, pros meus desejos...volto pros tantos gatos, pra minha cadela maluca, Ella, cadela boazinha a Ella, mas pirada. Eu vou deixando o vento levar toda a farinha da padaria, todas as fofocas que ouvi, o cheiro de pão, deixo a vontade dos docinhos e do suco de laranja, eu esqueço dos clientes, eu esqueço o relógio...esqueço o relógio...por isso passa tão rapidamente as horas quando estou livre..

 E eu chego em casa cansadíssima, e com vontade de fazer milhões de coisas. Constantemente com sono e sem vontade de dormir, que vida ante saúde essa de hoje em dia. O povo fica doido de tanto trabalhar, a hora vaga vira um tempo precioso...o tempo corre diferente, a vida passa rápido, a velhice toda hora bate nos seus olhos fazendo-os cair, os ombros caídos também, os calcanhares que gritam socorro e você fingindo não ouvir.

ai ai vou dormir....bj

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